“Só abrindo um parêntese”: a digressão no conto de Machado de Assis.

Abstract

Neste trabalho, realizou-se um estudo que demonstrou a ocorrência e o papel da digressão no conto machadiano, que é escrito, mas possui traços que o aproximam da oralidade. De modo específico, descreveu-se os tipos de digressões recorrentes no texto conversacional, caracterizou-se o conto como um gênero discursivo e literário e identificou-se as ocorrências de digressão no conto machadiano e os sentidos delas oriundos. Para tanto, partiu-se da seguinte pergunta-problema: Como os diferentes tipos de digressão, elemento do texto conversacional, manifestam-se no conto (texto escrito) de Machado de Assis, não perdendo de vista os seus efeitos na estrutura do gênero discursivo-literário em questão? À vista disso, foi analisado, particularmente, o conto “Fulano”. Para fundamentar esta análise, foram apresentadas as principais estratégias de organização do texto falado, tomando como ponto de partida o tópico discursivo, elemento básico da conversação que se refere à organização hierárquica e linear daquilo sobre o que se fala, e a digressão, fenômeno que, apesar de não ser considerado elemento básico da conversação, insere-se na estruturação tópica dos textos falados. Tudo isso foi embasado em conceitos discutidos pela Linguística de Texto, a partir de Koch (2009) e Koch e Elias (2023); pelo Dialogismo, partindo de Bakhtin (1997;2016) com a concepção de gêneros do discurso; pela Análise da Conversação, a partir de Marcuschi (2003), Fávero, Andrade e Aquino (2005), Jubran et al. (2002), entre outros. Metodologicamente, foi realizada uma pesquisa de cunho qualitativo, considerada como um modelo de investigação que permite analisar e compreender um objeto em sua especificidade e profundidade, considerando toda a complexidade que o envolve; e também bibliográfica, pois se pretende aprimorar o conhecimento por meio da investigação de obras já publicadas. Ao final, demonstrou- se que a digressão, um aspecto da oralidade, também ocorre em textos escritos sem lhes prejudicar o sentido, mas, ao contrário, acrescentando-lhes novos sentidos por vezes não esperados, como ocorre no conto machadiano.